Debaixo de uma Lua Prateada

Uma vida

Quando eu era pequena o meu avô ensinou-me a ver as constelações no céu da escura noite. Ele fazia-me acreditar que tudo o que havia em redor de mim era maravilhoso, que cada pedra, cada árvore, cada animal tinha uma alma e que a vida era uma grande aventura para ser vivida da maneira certa. Ele dizia-me que nunca devia ouvir quando os adultos falavam mal do mundo, dizia que eles só falavam assim porque não tinham vivido as suas aventuras, tinham-nas deixado para trás no momento em que acabaram as faculdades e começaram as suas vidas rotineiras. Tenho saudades do avô.

Agora, quando me sento a olhar para o céu na varanda do meu quarto já não tenho medo porque sei que não há nada no céu que me queira fazer mal. São só estrelas brilhantes, planetas e suas luas.

Uma brisa quente de Verão secou rapidamente as lágrimas que escorriam nas minhas bochechas e decidi que estava na altura de me ir deitar. Entrei no meu quarto sorrateiramente e poisei a fotografia do meu avô numa mesa ao pé da minha cama, deitando-me de seguida. A minha irmã mais nova já dormia profundamente e não a queria acordar por isso limitei-me a adormecer, sonhando com o mundo perfeito do meu avô.

- Melissa querida, tens que te levantar ou planeias ficar a dormir o dia todo? – Acordei com a voz doce da minha avó.

- Desculpa avó, não dormi muito bem esta noite, tive que ir lá fora ver as estrelas para ver se adormecia, está muito calor aqui.

- Eu sei querida mas não temos dinheiro para comprar as modernices dos ares condicionados. Também ouvi dizer que aquilo faz muito mal à saúde por isso, não seria muito boa ideia. Anda lá tomar o pequeno-almoço, a tua irmã já lá está à tua espera.

Como todas as manhãs, quando cheguei à cozinha a Catarina estava a olhar fixamente para a televisão, não tocando nos cereais que tinha à frente. Sentei-me ao lado dela sem dizer nada para ver quanto tempo é que demorava até ela perceber que eu estava ali.

Como o episódio dos desenhos animados estava quase a acabar não tive que esperar muito até ela se espreguiçar e começar a falar dos seus sonhos.

- Bom dia mana, já acordaste à muito tempo?

- Não, não acabei de chegar aqui. Ainda não tocaste na comida Catarina… tens que aprender a comer enquanto olhas para a televisão.

- Sim, desculpa.
Ela baixou a cabeça e olhou-me fixamente com os seus olhos azuis iguais aos meus. Eu sorri e ela começou a enfiar colheres inteiras de cereais na boca, enquanto se ria. Ao contrário dela, eu não gostava nada de comer cereais, por isso, optava por preparar um sumo natural de laranja e comer uma peça de fruta pela manhã.

Eu e a minha irmã vivíamos na casa da nossa avó pois os nossos pais tinham sofrido um acidente quando éramos pequenas e nunca mais tinham aparecido. Já não pensávamos nisso, pelo contrário, éramos felizes ali na casa da avó e tínhamos tudo o que precisávamos para viver bem.

- Meninas, vou-me agora embora, venho à hora de almoço como sempre. Divirtam-se, mas tenham juízo!