Little Lady

Caixa surpresa

Assim que entrei em casa Katie começa a me perguntar o que eu estava fazendo fora, e embolando no meio das perguntas de preocupação ela pergunta o que eu fazia na casa dos meninos. Ela estava quase sem ar quando decidiu me deixar falar.

_ Calma, desse jeito a sua lingua cai. - eu disse rindo. Ela abafou um riso, a sua cara estava tão séria que tive que dizer tudo da mesma forma como ela me perguntou, correndo. - Você teve que sair de manhã, então, assim que acordei, bateram na porta, na verdade eu fui acordada pelo barulho da porta e...

_ Pula isso, vai para a parte importante! - interrompeu ela.

_ E... eles chegaram perguntando se eu queria sair com eles para tomar café da manhã, eu aceitei e na volta eles disseram que era melhor eu ficar lá para não ficar aqui sozinha, e acabou que eu conheci o resto dele e o dono do apartamento e pronto! Você chegou.

Me joguei no sofá enquanto pronunciava as últimas palavras. Katie levantou-se, foi até a porta que dava ao corredor e parou. Olhou para o chão um pouco preocupada, levantou a cabeça na minha direção e disse:

_ Seus pais ligaram e eu fiquei preocupada, desculpa tudo isso. Eles são bons vizinhos, eu só fui procurar por você. E, eu não tenho certeza se vou estar amanhã de manhã. Se você for com eles deixa um bilhete ou algo assim ok. - ela entrou pelo corredor, pude ouvir o chuveiro sendo ligado.

Fui para o quarto também. O computador estava ligado e tinha um e-mail pendente. Antes de olhar fui arrumar minhas coisas. Tirei o sapato e coloquei no closet. Enquanto ia para o banheiro olhei pela janela e pude ver que o Ed tocava algo no violão. Depois de um tempo assistindo sua troca de notas constante fui para o banho.

Quando terminei de me trocar olhei pela janela e vi o apartamento escuro, quando olhei as horas vi que já se passavam das onze da noite, certamente o fuzo horário não me deixaria dormir tão cedo. Fui para a cozinha preparar alguma coisa para comer, encontrei ovos, pão e suco, e fiz o lanche com aquilo mesmo.

Quando acordo já é dia, e na verdade acordo no sofá, com toda luz do sol queimando meu rosto. Olhei para a mesa e avistei o bilhete da Katie.

Bom dia dorminhoca, eu volto tarde hoje

vê se não some.

Beijos, até.

Volto para o quarto e vejo que esqueci de abrir o e-mail, quando ia me sentar o telefone começa a tocar. Corro para a sala, uma voz mais parecida com a de um robô fala do outro lado da linha:

_ Good mornig, I'm from Columbia University and need to talk with Hanna Michalick McLinn.

Silêncio do outro lado da linha. Com certeza a mulher espera a minha resposta.

_ Yes.

Ouço barulho de papéis e de alguém digitando algo.

_ Senhorita Hanna, enviaram-nos, do Brasil, seu hisórico escolar, e ficaríamos felizes se pudéssemos ter você no nosso corpo estudantil.

Eu paro por um minuto. Como assim enviaram meu histórico? Como sabem o meu número? E que história é essa de eu ir para a faculdade?

_ Ah, me desculpe senhora...

_ Jeniffer.

_ Sim, claro, me desculpe Jeniffer mas deve haver algum engano, eu não enviei nada do tipo. - respondo. Ouço folhas de papéis sendo passadas com pressa.

_ Senhorita, quem nos enviou foi uma senhora chamada... Helena Michalick, a conhece?

_ SIm, ela é a minha mãe. Senhora, eu estou um pouco ocupada no momento, eu posso retornar a ligação mais tarde? - pergunto.

_ Sim, esperamos a sua ligação, tenha um bom dia. - diz a moça e a ligação corta.

Eu passo uma água no rosto e calço minhas pantufas, e me lembro de olhar o e-mail.

Após ler descobri que por vontade própria minha mãe decidiu mandar meu histórico para ver se era aceita em alguma faculdade de Nova Iorque, enquanto olhava vi uma coisa que me chamou a atenção. Uma faculdade de música. Eu já havia estudado música no Brasil, mas tive que largar para terminar o ensino médio, mas a minha paixão sempre foi a mesma. E a Columbia University oferecia o curso. Deixei para resolver isso depois pois certamente eu precisaria fazer as contas de quanto gastaria.

O interfone toca e eu corro para atendê-lo:

_ Entrega para o apartamento 302, Hanna. - diz um homem do lado de fora.

_ Já vou descer. - digo, coloco um short e um chinelo.

A caixa era pequena, e vinha do Brasil. Peguei o elevador e quando olhei para o corredor, lá estava ele,abrindo a porta do apartamento.

_ Oi.

_ Oi, tudo bem? - pergunta ele. Mesmo com a porta aberta ele fica no corredor.

_ Tudo sim. Eu te vi tocando de noite... - digo, e quando vi ele estava sorrindo. Não esperava isso já que geralmente as pessoas se irritam quando veêm o que as outras estão fazendo, ainda mais de noite.

_ Ah sim, pois é, estava tocando umas antigas. Gostou do que ouviu? - ele pergunta.

_ A sua janela estava fechada. - respondo. - Não dava para escutar muito bem.

Ele ri e fica vermelho ao mesmo tempo. Fecha a porta do apartamento e senta no chão, entre o espaço da minha porta e da dele. Então, ele me olha, como se fosse um convite. Eu coloco a caixa no chão entre nós, e escolho uma posição.

_ Desculpa te olhar, mas não vou fazer isso mais, foi um descuido, estava indo para o banho, a cortina aberta, e simplesmente...

_ Me viu. - disse ele completando a frase.

_ Pois é, simplesmente te vi. - rio. Ele olha para a caixa e em seguinda para mim. - É do Brasil, não sei de quem, não abri.

_ Hm, entendo.

E sem perceber estou terminando de tirar o lacre, o modo como ele disse foi um convite para que eu abrisse. Dentro tinha uma camisa, do Brasil, é claro, com um bilhete de amigo pendindo que usasse sempre que puder, e algumas cartas. Uma delas de um antigo namorado, que acabou virando amigo. FIco constrangida e coloco de volta somente a dele.

_ O que têm nela? - ele pergunta. Sinto como se minha barriga se preenchesse de gelo.

_ É apenas uma carta, de um amigo, que prefiro não abrir agora. - ele concorda fazendo um gesto com a cabeça, e pega a camisa.

_ Ela é bonita, eu tinha uma quando criança,mas não sei o que aconteceu com ela. - ele sorri, e a coloca de volta.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele quebra a tensão.

_ Vai fazer o que hoje a noite?

_ Isso é um convite para sair ou coisa parecida?

Ele ri, balança a cabeça.

_ Talvez.

Eu olho para ele, seus olhos cruzam o meu olhar, então desvio para a janela que dá para a rua. Seria apenas um convite, nada demais. Com os amigos, certamente.

_ Bem, eu não tenho nada para fazer. Quais as suas intenções, Edward? - pergunto. Ele sorri, mais uma vez.

_ Caminhar, conversar, comer alguma coisa, rir e voltar para casa.

_ Bem, aceito. - digo. Sinto meu rosto corar um pouco, mas não o suficiente para que ele tenha notado. - A que horas vamos?

_ Meus planos são sair mais tarde, que tal às dez? É porque quero mostrar uma coisa para você, e como eu já mostrei a todos meus amigos, queria te mostrar também.

_ Entendo, pode ser às nove? Porque seria um pouco estranho sair tarde de casa. Ainda não me acostumei ser dona daqui. - digo.

_ Às nove, na porta da minha casa, senhorita Hanna. - ele ri. - Quando der dez nós saímos. OK?

_ Eu não sou uma senhora! - respondo, com um alto tom de ironia.

Nós rimos.

_ Ok, combinado. Vou para dentro, tenho que arrumar a casa para você poder entrar. - diz ele.

_ Até mais tarde, Ed. - digo, me levantando e indo para a porta.

_ Até Hanna. - diz ele, entrando em casa.