Little Lady

Filme na varanda

Assim que entrei em casa coloquei a caixa sobre a mesa da sala. Olhei para o relógia mas percebi que ainda era cedo, tanto para Katie chegar quanto para sair. Estava sem o que fazer então fui a uma locadora que tinha a dois quarteirões. Peguei minha bolsa e calcei um tênis.

Enquanto andava olhava para as vitrines das pequenas lojas. Algumas vendiam livros, outras eram cafeterias, algumas eram de roupas masculinas, mas em geral as lojas tinha um ar próprio, com que nenhuma se parecesse com a outra. Era a segunda vez que eu saia de casa, para sair e passear, desde que cheguei aqui.

A locadora era uma lojinha escondida entre um salão de beleza e uma barbearia. Assim que abri a porta um sininho tocou e um homem apareceu no balcão. Ele era novo, devia ter uns vinte e três anos, seus cabelos escuros eram curtos.

_ Can I help you? - ele perguntou.

Eu passava os olhos pelos dvds nas paredes, eram tantos que não sei se poderia escolher apenas um.

_ Sim - disse, sem querer em português - ops, yes.

Ele sorriu, pareceu ter entendido o sim, ele saiu do lado de dentro do balcão e andou pelas fileiras de dvds.

_ Você é brasileira? - ele pergunta. Eu me surpreendo, a única pessoa com quem eu falo português é a Katie, e mesmo assim, falei poucas vezes.

_ Sim, e você? - pergunto.

_ Mais ou menos. Nasci aqui, mas morei com os meus pais por quase quinze anos lá, até ter que voltar.

_ Entendo.

_ Você tem boa pronúncia, e além do mais, poucos brasileiros vem em locadoras. - ele diz.

_ Eu moro aqui agora.

_ Ah, que legal. - sua resposta fica suspensa no ar. - Que tipo de filme gostaria de assistir?

Eu passo os olhos pelas fileiras, parecem infinitas.

_ Eu não sei. Algo romantico, mas não aqueles clichês. Algo com que a personagem sofra com o amor verdadeiro, algo que a quase faça desistir, ou que a faça desistir mesmo. Algo, diferente.

Ele faz uma careta, como se estivesse confuso. Faz um jesto com a mão e vai para o final da loja. Passa a mãopor alguns dvds, até escolher um, e então volta e me entrega.

_ Acho que este.

_ Obrigada. Vai ser este mesmo, confio em você.

_ Então, pode ter certeza, você vai gostar muito.

Eu rio. Vamos até o caicha, eu pago e nos despedimos. Faço o caminho de volta para casa com mais rapidez, já que olhei tudo o que tinha que olhar na ida. Peguei o elevador, entrei em casa e fui até o armário. Tinha um pacote de biscoito e uma lata de suco.

_ Isso vai ser suficiente. - digo para mim mesma.

Pego o computador no quarto e vou para a escada de incêndio que tem do lado de fora da minha janela. Sento lo chão e aperto o play.

O filme é sobre uma garota que já está com o seu coração partido e a cada iníci de um amor o quebra ainda mais, até que ela finalmente desiste, e acaba encontrando alguém.

_ Finalmente alguém que dê certo. - ouço-o dizer.

_ Pois é, finalmente.

Enfim percebo que era ele, estava sentado na janela, conseguia ver e ouvir o filme. Aperto para parar o filme.

_ Ei!

_ O que foi? - ele pergunta, com uma cara irônica.

_ Desde quando você está assistindo o filme?

_ Desde quanto você sentou aí. Na verdade estou aqui desde antes de você sentar, a mais ou menos uma hora e meia.

_ E você está gostando do filme? - pergunto.

_ Estou.

Eu aperto bato a mão no chão, para que ele sentasse ao meu lado. Ele entende, mas questiona.

_ Por que quer que eu me sente?

_ Você não quer ver o final?

_ Quero. Mas primeiro quero saber de uma coisa.- ele diz

_ O que quizer.

_ Por que não parou de ver esse filme, nem quando a menina sofria, quando ela já estava cançada de amar? É um pouco chato, não acha? Procurar o amor verdadeiro?

Eu olho para ele, não sei o porquê da pergunta, mas sinto que sei o que ele quer dizer. Ele quer saber se eu já não passei por isso.

_ Bem, a gente nãopode desistir não é. Eu quero ver se ela vai ter um final feliz. Assim como eu espero para mim. Acho que talvez eu aprenda um pouco com o filme.

_ Mas é apenas um filme, não é verdade. Príncipes encantados não existem. - ele responde.

_ Não preciso de um príncipe. Não sou nenhuma princesa, preciso de um amor, com defeitos, mas um amor.

Então ele senta, ao meu lado, ainda mais perto do que imaginava, seus braço toca o meu, então aperto o play novamente. Assistimos o filme inteiro. Ele não dormiu, ou parou de prestar atenção, na verdade estava mais atento do que eu. A personagem encontra o seu amor, seu defeituoso, a história termina com os dois felizes, mas não como felizes para sempre, apenas, felizes.

_ Acredita em amor? Desses que te muda, que te provocam, desses que acontecem de repente? - ele pergunta.

_ Acredito, por quê?

Ele se inclina na minha direção, sinto sua respiração cada vez mais perto, e então, a porta se abre e ouço o som da Katie entrando em casa. Ele se afasta, fecha os olhos e faz um sinal que é para eu ir.

_ Me desculpa. - digo.

Entro no quarto, deixo o computador com ele. Vou para sala e lá está ela.

_ Oi, que cara é essa? - pergunta.

_ Não é nada, estava assistindo um filme e não gostei do final. - digo.

Ela tira os sapatos, pega algo para comer e vai para o quarto. Antes que a porta se fechasse digo.

_ Katie!

Ela volta.

_ Oi, quer alguma coisa? Desculpa não poder te fazer compania, tenho que tomar banho, já volto para a sala, em vinte minutos, não demoro. Então podemos assistir alguma coisa.

Concordo com a cabeça, deixo ela entrar no quarto, e volto para a janela. Ele não está mais lá, o computador está com a janela aberta no bloco de notas, e encontro escrito: Te espero às nove.

Foi ele. Fecho a tampa do computado e vou tomar banho. Deixo a água quente passar pelo meu corpo, enquanto assimilo o que aconteceu. Por incrível que pareça já tem quase uma semana que estou aqui, quase uma semana que o conheço, mas sinto como se fossemos amigos a muito tempo, mais que amigos até.

_ Hanna! - ouço me chamar. - Fiz macarrão, você vai querer?

_ Sim! - grito.

Saio do banho e me troco, são seis e meia. Arrumo um pouco a bagunça e vou para a sala, e para a minha surpresa estão todos lá, os sete. Katie na cozinha com Harry, que pelo o que percebo não a deixa fazer quase nada. Louis, Liam e Zayn estão conversando no sofá, Niall e o Ed estão conversando perto da parede que está cheia de livros, jogos e fotos. Eles riem de algumas, as que estamos mais feias.

_ Boa noite, ou boa tarde, sumidos. - digo, me referindo aos cinco, quero dizer, seis, porque Katie está sumida também. - Sumida.

_ Oi Hanna, desculpa não termos te feito compania essa tarde, eu Niall, Louis e Liam estávamos ensaiando, resolvemos fazer um show de última hora. - diz o Zayn. - Já quanto a ele, e a ela, não sei o motivo do sumiço.

_ Finjimos que não sabemos, não é. - diz o Liam, fazendo os três rir. Vejo que Harry e Katie fingem que não ouvem. E sorriem.

_ Como assim? Fingem? - pergunto. - Ed? Como assim? Perdi o que enquanto tomava banho?

Ninguém responde, vou até a bancada e puxo Katie, arrasto ela até a lavanderia. Ela está sorrindo, está radiante, para falar a verdade. Vejo os meninos rirem na sala.

_ Que papo é esse?