As memórias de Nessa

Tentação

Quando abriram a porta vi três caras sorridentes a olhar para mim e então percebi que era ali bem vinda e que essas pessoas iriam cuidar bem de mim até completar o meu processo de adaptação ao mundo humano. Decidi então sorrir de volta para entenderem que estava agradecida por estar ali.

- Bem vinda, estávamos á tua espera! O meu nome é Annie e vou ser a tua mãe adoptiva de agora em diante, acho que nos vamos dar muito bem, sempre quis ter uma menina em casa! - Posto isto abraçou-me como já não me abraçavam á muito tempo e senti-me finalmente em casa. - Oh querida, com esta emoção toda até me esqueci de te perguntar, como te chamas?

- Chamo-me Vanessa, mas todos me chamam Nessa. Muito obrigado por me aceitarem em vossa casa, espero não dar muito trabalho mas estou-vos agradecida do fundo do meu coração.

- Ora essa, és mesmo bem vinda – Desta vez a voz veio do homem que estava do lado direito – O meu nome é John e vou ser o teu pai adoptivo! - Está descansada que eu não sou muito chato, pergunta aqui ao Luke – e foi aí que olhei para o meio, lá encontrava-se um rapaz que deveria ser da minha idade e que me olhava curioso. Era um rapaz extremamente esbelto e ainda não tinha dito uma palavra pois parecia petrificado a olhar para o meu corpo dos pés á cabeça.

- Ah pois…O meu nome é Luke e…pois…sendo assim, acho que vou ser o teu irmão adoptivo durante estes tempos, bem vinda, vais ver que gostas disto aqui. Amanhã levo-te para conheceres a cidade e a escola onde vais estudar. Estás na minha turma por isso posso ter um olho em ti. - E desta piscou-me o olho esquerdo. Tinha uns belos olhos azuis mar, uns olhos impenetráveis, uns olhos extremamente profundos.

- Muito prazer em conhecer-te e a sério muito obrigado a todos por isto, significa muito para mim a vossa bondade. - Ficaram todos boquiabertos com as minhas palavras mas a mãe logo sorriu e disse amavelmente “Não há problema”, tinha o típico aspecto de uma dona de casa, pelo que eu via nas séries de televisão: Cabelo castanho-escuro apanhado atrás num rabo-de-cavalo bem cuidado, uma saia com estampado florido, uma camisa branca muito simples e calçava umas sandálias brancas também, tinha uns gentis olhos verdes e o seu sorriso trazia-me segurança.

Vendo que estávamos todos em silêncio, o pai resolveu pegar nas malas e mostrar-me o meu novo quarto para que eu me sentisse mais á vontade naquela nova vida. O quarto era simples mas muito bonito, parecia mesmo planeado para mim pois tinha todas as minhas cores preferidas. As paredes estavam pintadas com um tom arroxeado e tinham autocolantes de folhas pretas a simular uma trepadeira junto da cama que também tinha uma colcha roxa com flores pretas. O armário era grande o suficiente para a minha roupa e á direita do armário encontrava-se uma estante vazia e uma secretária de madeira. No chão de madeira encontrava-se um tapete redondo e muito confortável e a janela (que estava mesmo ao lado da cama) dava para um jardim pouco iluminado.

- Este vai ser o teu quarto a partir de agora, esperemos que gostes, deixámos tudo nas tuas cores preferidas de acordo com o que nos disseram de ti. - Sorri e corri para abraçar a minha nova mãe, o meu novo pai e o meu novo irmão como forma de agradecimento.
- Agora vamos deixar-te confortável para poderes arrumar as tuas coisas – Voltou-se para o corredor e fez sinal para eu me aproximar – Ali ao fundo é o meu quarto e o do pai, se precisares de alguma coisa e o do Luke é já este em frente caso queiras falar com ele.
De seguida abandonam o quarto e deixaram-me sozinha para eu me ambientar e arrumar as minhas coisas. Arrumei rapidamente as coisas no armário e coloquei os meus poucos livros na estante vazia, para não parecer assim tão triste. Vesti um vestido de Verão que adorava e apanhei o cabelo atrás para não o ter á frente dos olhos.

Deitei-me um pouco na cama e reflecti sobre o q se estava a passar, por momentos senti-me realmente feliz pois estava de novo nas mãos de alguém que eu sei que me ia tratar bem, estava numa casa de sonho e agora era uma vampira adolescente. Respirei profundamente e fechei por momentos os meus olhos cansados, era engraçado o quão relaxante era estar ali e foi ai que um cheiro doce me invadiu a cabeça, era algo tão doce que eu não resisti e segui o cheiro que vinha de fora de casa.

Fui pedir permissão aos meus pais para ir dar uma volta para pensar um pouco e eles deixaram-me e então saí de casa a seguir aquele cheiro que me atraía tão profundamente. Levava-me ao interior mais escondido do parque, um sítio que não costumava ser muito frequentado por humanos por se dizer estar assombrado (algo que tinha ouvido o taxista dizer enquanto eu estava no meu mundo dos sonhos).

Ouvi um grito másculo ao longe e então escondi-me atrás de uma árvore de modo a poder ver o que se estava a passar.

De pé encontrava-se um homem jovem que devia ter os seus vinte e poucos anos e segurava no colo outro homem enquanto encostava os seus caninos desenvolvidos ao pescoço do inocente que parecia também inconscientes. Era um dos meus, era um vampiro mas provavelmente um de “má raça” visto que estava a roubar a vida de um inocente. Esteve uns minutos de volta do homem e depois depositou o cadáver no chão como se de lixo se tratasse.

Agilmente fugiu dali deixando o cadáver no chão. As lágrimas começaram a escorrer pela minha cara e as minhas pernas fraquejaram mas tive que começar a correr ou então entrava em pânico. Não poderia ir á polícia pois iam me tomar de maluca se dissesse que um vampiro tinha morto o homem pois mesmo nos dias que correm, ninguém era bem capaz de acreditar que ainda existem vampiros no mundo.